segunda-feira, 31 de julho de 2017

FLIP 2017

FLIP 2017

Eis que o triste visionário virou verbo.
A voz que enlouquecidamente,
alcoolicamente
e conscientemente
se propôs a narrar o fim
de uma monarquia decadente e arcaica,
além do início corrupto
de uma república manchada.
Manchada pelo preconceito,
pelo desrespeito,
pela comilança.
Afonso Henriques – nome de rei.
Um rei do povo,
um rei da rua,
um rei da raça,
um rei da voz.
Da voz abafada, calada, contida,
por baixo do pano da bandeira nacional.
Da voz que se fez grito
de guerra, de choro,
de sede, de fome.
Da voz, não do homem, da massa.
A massa que se amassa
pelo pão que o diabo amassou.
Da voz que eleva a alma nativa,
alma alvinegra
- mais negra que alva.

Virou verbo,
assim como surgem,
vitoriosa e harmoniosamente,
outras vozes sofridas,
brasileiras,
de Divas, de Lázaros,
de Conceições, de Carolinas,
de Cruz e Souzas, de Solanos,
de tantos outros,
negros fortes,
fortes vozes.
Vozes que lutam,
que clamam por um Brasil
que em brasa sustenta imponente
um racismo acéfalo.

Até quando,
meu Deus,
até quando...?

Que a loucura lúcida,
nos possa ser cura
para um país
cujas escolas foram esquecidas,
cujos mestres não foram pagos,
cujos alunos se perderam...

O tempo foi tardio e vagaroso,
mas o povo agora sobe no palanque,
por meio do romance, conto ou crônica
- eis que o triste visionário virou verbo.