domingo, 28 de fevereiro de 2016

Brasil - 10

10 – Navegação

Professores navegam no mar,
Do baixo salário,
Do desrespeito,
Da má vontade.
Alunos navegam no mar,
Da ignorância,
Do desinteresse,
Da preguiça.

Brasil - 9

9 – Protesto

Tem gente que vai pra rua,
Pra pedir aumento de salário,
Ou tirar presidente do cargo.
Por que ninguém vai pra rua,
Pelos meninos de rua?

Brasil - 8

8 – República

Isso não podia mesmo dar certo,
Uma república, proclamada por um monarquista.

Brasil - 7

7 – Independência

“Independência ou morte!”
Viu-se Portugal livre do Brasil.
Que frase deve-se usar,
Para ver os brasileiros livres dos EUA?

Brasil - 6

6 – Semente

“Nela, em se plantando tudo dá.”
Um ladrão, certa vez, foi enterrado nesta terra.
Hoje, vemos que ela é boa.
Há mais de 500 anos, ainda distribui frutos.

Brasil - 5

5 – Libertas quae será tamen

Chega de escravidão!
Há 127 anos uma pena nas mãos de uma princesa,
Quis acabar com isso.
Coitada!
A mão nem mais existe,
Mas há escravos por todo lado.
Até quando?

Brasil - 4

4 – Brasil Colônia

Cana, ouro, café.
Ouro, café, cana.
Café, cana, ouro.
E o mundo rindo de nós.

Brasil - 3

3 - Descobrimento

A luneta de Cabral estava suja.
Avistou-se um Monte.
Nativos expondo suas vergonhas.
Milhares de alqueires de Pau-brasil.
“Essa terra é boa, vamos descer!”
Coitado.
Estava descoberto o Brasil.

Brasil - 2

2 - Terra de Santa Cruz

Um velho historiador,
já com muitas primaveras,
Disse-me um dia:
“Seríamos melhor, se fôssemos, ainda,
Terra de Santa Cruz.”

Brasil - 1

1- Sufixos

O sufixo ‘eiro’ indica profissões
menos valorizadas da sociedade.
É por isso que somos brasileiros.
Trabalhadores que nascem,
para nunca serem valorizados.
Os sufixos ‘ano’ e ‘ês’ indicam nacionalidade.
Talvez um dia,
quando o Brasil se ver desenvolvido,
Possamos ser brasilianos.
Será um dia de festa!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Conversa com uma criança

Um dia perguntei a uma criança,
O que era o orvalho matinal,
Que eu via sobre a pétala da flor.
E ela me disse que era o choro,
De Deus quando teve lembrança,
Do mundo quando tinha amor.
E antes que eu perguntasse novamente,
Ainda disse que a gota que lá ficou,
Presa na pétala da rosa vermelha,
Mostrava a esperança que Deus tinha,

Em querer ver o mundo mais feliz.

Ode à caneta

E numa devoção quase escrava,
Mostrando a nós sua maior função,
Ela escorre por um lado e outro do papel,
Formando palavras com sua amarga tinta.
Obedecendo ao comando do poeta,
Seu instrutor,
Transforma em real suas imaginações.
Desenha cada frase da poesia,
Como o pintor faria uma Madonna.
Autora-mor das coisas, pois, escritas,
Perdoe-me a audácia de lhe dizer,
Obrigado por fixar nesse momento,
Nesse humilde pedaço de papel,
Essa poesia que, então, faço pra você.


A máquina

A máquina do coração quebrou,
E de tão velha e triste e enferrujada,
Cheia de dor, vazia de emoção,
Não teve gente que a pudesse consertar.
Cada um, à sua maneira tentou,
Porém somente quando ela chegou,
Ela mesma, doce donzela de tempos atrás,
É que a máquina do coração voltou,
A bater, a amar, a funcionar e a viver.
Pois o que a maquina do coração precisa,

É do óleo bom que escorre do verdadeiro amor.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Suíte Vidas Secas

Suíte Vidas Secas

A Graciliano Ramos

Fabiano

As alpercatas batiam no chão seco da caatinga.
Abaixou-se,
bebeu da água que minava da lama.
Comeu o papagaio por ele não saber falar nada.
Fabiano também não sabia.
Necessidade.
Matou a cachorra-irmã por ela estar doente.
Necessidade.
Necessidade de ser um fabiano, retirante mundano, que coça a barba e acende um cigarro de palha para comemorar a descoberta de um abrigo.
Vaqueiro, profissão do pai, do avô, dos filhos.
Filhos, falta de paciência.
Ergue a voz, cadeia.
Tenta falar difícil, cadeia.
Ia matar, não matou.
Abaixou a cabeça.
Necessidade.
Nasceu pra ser submisso.
E andar caminhando por aí.
Sendo bicho por aí.
Eis o seu maior motivo de orgulho.


Sinha Vitória

Passos espertos cortam o sertão.
Mãos frias e ásperas carregam filhos, dores, papagaio que já não existe mais, saudades, medos, inseguranças: malas da vida.
Os dedos dos pés abertos como um papagaio.
O medo da seca toma conta do seu coração.
Vai ver o jantar.
Ajuda o marido nas contas da casa.
Da janela, já comida pelo tempo, observa os filhos que brincam construindo mundos de barro que secam ao sol.
Sorri.
A seca não vai voltar.
Reclama do ronco de Fabiano.
Recolhe os meninos, a noite já vem.
Janta e deita na cama de varas.
E segue sonhando acordada, em um dia de primavera,
poder dormir numa cama de lastro de couro,
tal como a do seu Tomás da bolandeira.

O menino mais novo

E o vago desejo criou raízes na pobre cabeça.
Queria impressionar o irmão e a cachorra.
Fabiano, um ídolo.
Quem dera o menino fosse como ele.
Queria ser vaqueiro.
Só.
Via no pai a figura do homem mais corajoso do mundo.
Inventou de subir no bode para imitá-lo.
Coitado!
Em instantes estava jogado no chão.
E do chão, erguendo a pobre cabeça,
criou um mundo azul em meio às nuvens,
onde uma nuvem grande parecia Fabiano.
Ídolo.
Pai.
Vaqueiro.
Queria, um dia, ser como ele!


O menino mais velho

Maldita boca de sinha Terta.
Que tinha de falar em inferno?
A palavra maldita fez morada em sua cabeça.
Curioso que só, foi à mãe.
- O que é inferno?
- Ora moleque, diabo, chifres, tridentes, fogo, coisa ruim, seca.
Cabisbaixo, foi ao pai.
- Arreda, excomungado. Não tenho tempo.
Triste, contou histórias fantásticas para Baleia, que tudo ouvia com grande admiração.
Mas o que era inferno, meu Deus?
Era bom?
Era mal?
Inferno seria o chiqueiro? O curral? A serra?
Não.
Por ironia do destino, o inferno que o menino procurava já estava, há tempos, no seu simples dia-a-dia.


Baleia

Sentiu que já era velha demais.
O corpo cansado era comido por mosquitos.
Fabiano decidiu matá-la.
Como sentindo o cheiro da morte,
buscou forças da alma ainda boa,
para desviar-se dele.
Sinha Vitória tapou os ouvidos dos filhos que choravam.
De repente, um tiro.
Numa sequência ilógica,
seus pensamentos e lembranças se misturaram com a chegada da morte.
A pedra quente perto do fogão que a esquentava de noite.
Os meninos.
A mão do pobre irmão Fabiano.
Sinha Vitória.
As vacas que corriam soltas.
Pega, pega, pega!
Um preá. Dois preás.

Um mundo de preás, gordos e enormes.

Do contra

Nasci quando todos morreram,
Morri quando todos nasceram,
Cresci, pois, quando envelheceram,
Envelheci quando cresceram

Chorei quando, então, todos riam,
E ri quando todos choravam,
Amei quando todos odiavam,
Odiei quando todos amavam

Falei quando todos pensavam,
Pensei enquanto eles falavam,
Calei-me quando eles cantavam,
Cantei quando, pois, se calavam

Subi quando todos desceram,
Desci quando todos subiram,
Parti quando todos chegaram,
Cheguei quando todos partiram

Ajudei quando desprezaram,
Desprezei, pois, quando ajudaram,
Naveguei enquanto encalharam,
Encalhei quando navegaram

Liguei quando eles desligaram,
Desliguei quando eles ligaram,
Afirmei quando, então, negaram,
Neguei quando eles afirmaram

Soneguei quando todos pagaram,
Paguei quando eles sonegaram,
Acordei quando eles dormiram,
Dormi quando, pois, acordaram

E assim cresci dessa maneira,
Sendo sempre contrariado,
E a quem não gostar do poema,

Eu lhe direi: muito obrigado.

Família real

Que família louca é essa,
Vinda, pois, de Portugal,
Fugindo Napoleão,
Esconderijo fatal

Temos D. Maria,
A louca mãe de D. João,
Faleceu esclerosada,
Passando pra ele o “bastão”

D. João era um porco,
Só pensava em comer,
Beijavam-lhe a mão “de frango”,
Que em seu bolso ia se esconder

D. Pedro proclamou,
A independência do Brasil,
Contrariando seu pai,
Fez este gesto varonil

D. Pedro com complicações,
Em seu trono imperial,
Deixou seu filho Pedrinho,
Como patrono imperial

Pedrinho teve filhos,
E, destes, então, nasceu,
A princesa Isabel,
Que a Lei Áurea escreveu

Essa, então, é a louca história,
Dessa família real,
Que fez Portugal, Brasil,

E, também, Brasil, Portugal.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Visão de poeta

Uma visão bem diferente,
Pode ser ou não correta,
Mas exprime o que eu sinto,
É a visão de poeta

Vejo o mundo mais feliz,
Com mais amor e alegria,
E para opinar sobre tudo,
Vivo fazendo poesia

Faço crítica de um tudo,
Luto contra o que é errado,
Porém tem um lado meu,
Que é o mais apaixonado

Muita gente não entende,
O que o poeta pensa e diz,
Mas confesso a quem quiser,
Ser poeta é ser feliz.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O esperado

O esperado não acontecera,
E a moça chorou lágrimas salgadas,
E a vela chorou lágrimas de cera,
Antes que o vento a deixasse apagada.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Ode à Capitu

Ah, Capitu!
Musa de Machado,
Deusa de Bentinho,
Amiga de Escobar,
Minha razão de viver.
Embebedo-me em meio aos teus olhos de ressaca,
E me imagino navegando no mar de teu coração.
Quem me dera pentear-te os cabelos,
Fazê-los em duas tranças longas,
Que se unem numa só,
Formando a unidade do meu amor.
Oh, olhos de cigana oblíqua e dissimulada,
Observes o quanto vos admiro,
E o quanto me sinto feliz,
Quando vos lançam a mim.
Ah, pudera eu entrar no clássico,
Atravessar a porta dos quintais,
E ver-te cosendo o vestido azul.
Queria eu, ter nascido anos antes,
Para, de tua boca, sentir o sabor.
Não vá, pequena Capitu
Fique para sempre ao meu lado,
Guiando-me com tua luz,
Na escuridão da vida.
Não vá.
Pois, quando fores,
Levarás contigo,
Minha razão de viver.