domingo, 31 de janeiro de 2016

Tempo de eleição

Nesse ano, pois, de eleição,
Acelera o coração,
Só de parar pra pensar

Não se possui ninguém,
Nem aqui, nem em Belém,
Que se possa confiar

Tem aquele candidato,
Um tal de Senhor Renato,
Que suborna os eleitores

Aparece na tevê,
Ele diz e o povo crê,
Promete falsos favores

Vamos, pois, tomar juízo,
Parar de dar prejuízo,
Para o nosso bom país

Dar, pois, o voto secreto,
Ao candidato correto,
Para a gente ser feliz.

Cartas do amor demais

A Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade

Pai e filha, relação,
Entre cartas pela vida,
Desde criança pequena,
Até a hora da partida

Férias em Belo Horizonte,
Buenos Aires, casamento,
Separação e três filhos,
As tristezas e tormentos

Poemas e muitas crônicas,
Saudade tamanha, imensa,
Conselhos, abraços, beijos,
E uma fiel companheira,
Sendo a eterna recompensa

Porém num tão triste dia,
Deixou-nos a moça bela,
Seu pai, mui triste e abalado,
Pediu um favor a ela:

 - Que me leve junto a ti,
Ordeno-te suplicante,
Dê-me um último presente,
Um infarte fulminante

E assim como ele pediu,
Após duros 12 dias,
Foi para o céu encontrar,
Com sua grande alegria.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Jeito

Um jeito bom de viver,
Esta vida,
Concedida por Deus,
É saber que não há perder,
O que há, é deixar de ganhar,
Mas, independente disso, 
Amar.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

FOTOPOESIA - 14



E tijolo por tijolo,
Colocados como num desenho ilógico,
Formaram a casa onde o amor habitaria.
A casa do amor não é preciso ser perfeita,

Pois ele já é e pra sempre será.

(créditos a fotógrafa Luara Priete Ribeiro Copetti)

FOTOPOESIA - 13



E o astro-rei foi-se descansar,
Deixando o céu vago para a lua.
E o laranja que tomou conta do horizonte,
Era o “Adeus, nos vemos amanhã!”
E assim terminou o dia,

Nas terras pra lá da montanha.

(créditos a fotógrafa Luara Priete Ribeiro Copetti)

FOTOPOESIA - 12



Ah, quem me dera estar na praia agora.
Deitar-me sob a sombra de um coqueiro,
Sentir, dentro de mim, a natureza,
Tocar a areia quente com meus pés,
Ouvir o ronco das ondas do mar,
Que levam e trazem amores, barcos, tristezas...
E aplaudir de pé o pôr-do-sol,

Que, corajoso, invade o horizonte.

(créditos a fotógrafa Luara Priete Ribeiro Copetti)

FOTOPOESIA - 11



E o céu mudou de sabor,
Enchendo-se de nuvens de algodão-doce.
A criança pediu um pedaço,

E Deus o mandou em forma de chuva.

(créditos a fotógrafa Luara Priete Ribeiro Copetti)

FOTOPOESIA - 10



Na estrada da vida em sociedade,
É proibido ultrapassar os limites do respeito.
Deixe-se atropelar pelo amor e pelo carinho,
E sua estrada da via terá menos buracos.

(créditos a fotógrafa Luara Priete Ribeiro Copetti)

FOTOPOESIA - 9



A cidade do bonito e do feio,
A cidade do início, do fim e do meio,
A cidade do gago e do fanho,
A cidade onde, ser normal, é estranho.

(créditos a fotógrafa Luara Priete Ribeiro Copetti)

FOTOPOESIA - 8



E as cascas dos olhos já cansados,
De ver, no mundo, tanta coisa errada,
Deixam entrar em suas velhas retinas,
A imagem da casca da boa árvore,
Que se renova a cada primavera.
Assim, de vontade de serem felizes de novo,
Caem, as cascas dos olhos, em lágrimas,
E, eles, renovados de esperança,

Veem uma razão para, então, existirem.

(créditos a fotógrafa Luara Priete Ribeiro Copetti)

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O(a) mar

O mar quebrou, pois, na areia,
Quebrou, pois, na areia, o mar,
O menino olhou o horizonte,
Procurando alguém para amar

O mar levou a caravela,
Levou a caravela, o mar,
A menina segura a saia,
E alegre, começa a rodar

O mar é abrigo de peixe,
Abrigo de peixe, é o mar,
Cuidado menina bonita,
Cuidado par não se afogar

O mar foi dormir tranquilo,
Foi dormir tranquilo, o mar,
O mar foi dormir feliz,
Pois ele encontrou alguém para amar.


Última confissão

Cansei, pois, de ficar triste,
Com o amor que só existe,
Na minha imaginação

Por te amar eternamente,
Não tirar você da mente,
Peço agora, a ti, perdão

Quero, pois, deixar bem claro,
Tu és diamante raro,
Tão difícil de encontrar

Igual a ti não vai ter,
Ninguém que possa vencer,
O brilho de teu olhar

Teu sorriso (que beleza!)
Pode ter toda certeza,
Deixará muita saudade

E o meu imortal desejo.
De dar-te, pois, um só beijo,
Será para a eternidade.

Tarde de inverno

Nesta tarde de inverno,
Juro, eu, amor eterno,
Por você

Coloco meu melhor terno,
Nesta tarde de inverno,
Para visitar você

Nem o céu nem o inferno,
Nesta tarde de inverno,
Impedem-me de te amar

Nesta tarde de inverno,
Em meio ao teu amor materno,
Quero me acalentar

Eu rabisco em meu caderno,
Nesta tarde de inverno,
Frases pra te conquistar

E nesta tarde de inverno,
Juro, a ti, amor eterno,
Para sempre irei te amar.


domingo, 24 de janeiro de 2016

Canção da Rosa

Eu sou a doce toda tão vermelha,
Guardada na redoma, pois, de vidro,
Que a fera toda noite em oração,
Olha-me e lembra de sua bela

Também sou eu que estou em companhia,
No asteroide B-612,
Sendo a fiel amiga confidente,
Do pequeno príncipe de outrora

Sou oferta galante dos namorados,
Para as meigas e tão belas namoradas,
Que põe-me num vaso de cristal,
E esperam, ser eu, eterna como o amor

Brotei do chão mais triste deste mundo,
Onde uma bomba tudo destruiu,
Porém lá nasci para dar a certeza,
De que a vida a tudo resistirá 

Sou a namorada mui ciumenta,
E com o cravo vivo a discutir,
Porém depois lhe caio sobre os braços,
E os abraços de um amor sem fim 

E agora para resumir quem fala,
Ora a vós, caríssimos leitores,
Sou a rosa que não fala mas exala,
O perfume que roubo de vocês.

sábado, 23 de janeiro de 2016

FOTOPOESIA - 7




Os dedos jovens se unem de repente.
Num enlace que os transformam num só corpo.
Os pelos dos braços arrepiam-se de leve.
As mãos transpiram de tão ansiosas...
Eis uma cena de amor.
 
(créditos a fotógrafa Ágatha Míssio, sigam no instagram: @5dejunh0)

FOTOPOESIA - 6





Ela esperava somente uma carta.
Uma carta curta, um bilhete apenas,
Para confortar o coração que a tanto gritava por uma resposta.
Porém para sua tão doce alegria,
No lugar da carta veio uma flor branca,
Que, posta sobre a caixa de correios,
Anunciava o amor que era presente.
(créditos a fotógrafa Ágatha Míssio, sigam no instagram: @5dejunh0)

FOTOPOESIA - 5




É da mais bela das estações que ela surge.
Surge tímida e com vergonha,
Com medo do inverno que se foi.
Porém dentro de tão poucos dias,
Mostra-nos a tua cor mais pura,
Enlaça a natureza, sua mãe,
E faz nossos olhos brilharem,
Ao vermos suas pétalas coloridas de paixão.
(créditos a fotógrafa Ágatha Míssio, sigam no instagram: @5dejunh0)

FOTOPOESIA - 4




Da janela já comida pelo tempo,
Olhos fantasmas veem o mundo girar.
E apoiados sobre o velho parapeito,
Veem o mundo consumista girar.
O mundo tolo, inútil, e sem princípios,
Que tudo consome.
Consome o tempo, os amores, as matérias e a vida.
Porém não conseguem consumir os olhos,
Dos fantasmas que, da janela, os espiam,
Com ar de superioridade.

(créditos a fotógrafa Ágatha Míssio, sigam no instagram: @5dejunh0)

FOTOPOESIA - 3




As curvas dessa estrada na floresta,
Leva-nos a um mágico encontro.
Encontro, este, num casebre velho ou novo,
Bem ou mal cuidado por quem mora,
Com flores ou com neve no telhado,
Com amor ou com grande solidão,
Depende de quem dele faz bom uso,
Encontro, pois, com a nossa pobre vida.

(créditos a fotógrafa Ágatha Míssio, sigam no instagram: @5dejunh0)

FOTOPOESIA - 2




Os olhos atentos marcam território.
O focinho que cheira o mato e molha-se com o orvalho.
A língua que distribui beijos grátis.
Um espírito de luz vivendo em quatro patas.
Enfim, o amigo-irmão do bicho-homem.

(créditos a fotógrafa Ágatha Míssio, sigam no instagram: @5dejunh0)

FOTOPOESIA - 1







Do grão escuro vem o gosto forte,
Que tira o sono e faz-nos refletir,
Sobre a vida, os amores e os amigos,
Que um dia, infelizmente, irão partir
 
Lembra-nos, pois, as tardes na vovó,
O cheiro bom saindo da cozinha,
E penetrando em nossas almas puras.
Ah, que tempo bom! Que vida a gente tinha!
 
(créditos a fotógrafa Ágatha Míssio, sigam no instagram: @5dejunh0)
 

 

O Homem e o tentar entender

A humanidade gira, em minha opinião, em um ciclo de não-entendimento.
Meu manifesto se baseia na seguinte frase:
“O Homem nunca entenderá o Homem.”
Ele tem preguiça de se entender e de tentar entender as outras pessoas com que ele convive na sociedade.
E, esta preguiça, tem como conseqüência o surgimento dos conflitos, e das guerras entre os povos, visto que, quando as pessoas não se entendem, fazem de tudo para serem umas melhores que as outras.
O Homem não tem a mínima noção das consequências de seus atos.
Para que o mundo se torne melhor, o Homem tem de seguir alguns passos que serão tratados depois. Antes, devo tratar de outro tema, a tolerância.
Um tema um tanto quanto simples, mas que o Homem não consegue compreender.
A tolerância se resume no seguinte:
Um ser humano expõe uma opinião sobre determinado assunto. Outra pessoa conhece a opinião exposta e, então, ela opta por concordar ou discordar dessa opinião, sendo que, em qualquer das escolhas que ela fizer, deverá respeitar a opinião que o outro havia dado.
Isso é tolerância.
Com isso, o entendimento das pessoas em geral, seria bem mais fácil e melhor.
Porém a humanidade pensa de forma semelhante à Hitler:
Ela quer que todos sejam iguais a ela, tal como Hitler queria um mundo somente de arianos.
Ela (humanidade) não aceita novas ideias ou opiniões construtivas para o seu desenvolvimento, apenas se baseia em seus ideais antigos e sem fundamentos.
Da forma em que a humanidade se encontra hoje em dia, posso afirmar que somente um milagre fará a melhoria do mundo, já que, seus próprios habitantes, não se importam nem um pouco com isso.
De um lado do mundo, bombas completam um cenário de uma guerra entre cidades, líderes, e povos.
Do outro lado, um país que parece querer dominar tudo, tem a audácia de espionar até quando respiramos mais forte .
Temos 1 bilhão de pessoas passando fome, e avarentos que comem até explodir.
Vejam se isso pode ser chamado de um bom mundo.
Volto agora ao assunto começado anteriormente:
Quais são os passos que o Homem tem de tomar para a melhora do planeta?
Na minha opinião, são apenas dois. Muitos simples e eficientes.
1°- O Homem deve se entender para conseguir entender aos outros;
2°- O Homem deve entender aos outros para a melhora do mundo, pois, quando as pessoas se entendem, os problemas ficam mais fáceis de serem resolvidos.
O entendimento da humanidade é o remédio para a sobrevivência do planeta.
É simples, basta o Homem tentar ENTENDER.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O que será que ele pensa?

          A olhar um postal da cidade maravilhosa uma pergunta me veio em mente, daquelas que não saem da cabeça enquanto não tiverem uma resposta que as satisfazem: O que será que pensa Drummond, ali sentado em Copacabana? De pernas cruzadas, os olhos pacatos com uma calma que vem de Minas, ele a tudo observa.
          Vê as garotas que um dia fizeram algum coração bater mais forte, vê os moleques com os pés descalços a correr atrás de pipas e, com o tempo, a correr atrás de saias. Vê o casal de namorados que passeia sob a luz da lua planejando a data do casamento, o nome do primogênito, e a compra de um novo jogo de panelas.
          Observa de olhar atento os malandros do Rio que, numa questão de segundos, com uma rapidez até elegante, furtam as senhoras que saem de casa para comprar um pãozinho para o café. Vê a poluição tomar conta das orlas, o lixo que se amontoa em todos os lugares, nas ruas, nas praias, nas calçadas e nos corações dos que isso fazem. Sente-se triste quando vê seu banco pichado, logo o seu banco, onde recebe diariamente muitos visitantes que, com ele, tiram fotos, trocam ideias e agradecem pelo relato da cidade, do povo e das opiniões feitos por ele em mais de sessenta anos como cronista diário.
          Talvez, quando ele fecha seus olhos para descansar de um dia cheio de compromissos, ele pense que a cidade que ele adotou para si, está, a cada dia, se transformando num paraíso de arrastões, poluição e individualidade, ponto chave para que o resto que for ruim aconteça. Quando se é individualista, se constrói uma redoma em torno de si e se esquece do mundo, apenas o lembrando quando, no jornal, vê que a situação está crítica e que tudo está no fundo do poço. Mas a tevê é desligada e a culpa é colocada no governo.
          E o nosso poeta, ainda em sonhos que são dependentes da população para virem a ser realidade, almeja um Rio novo, cheio de vida, sem poluição, apenas capaz de ouvir, em silêncio, o ronco das ondas que quebram na areia da praia.


Oração

Por um mundo com mais sorrisos,
Mais bom dias, mais carinhos,
Mais com licenças, mais perdões.
Por um mundo com mais vida,
Mais amores, mais vontades,
Mais amizades, mais flores.
Por um mundo com menos NÃO,
e mais SIM.
Por um mundo feliz também.
Amém.

Imaginação

Corpos celestes que do céu caem,
Esverdeados, sem forma definida,
Giram no ar numa dança alegre,
Passeiam por cima dos tetos.

Ao fim da mística dança,
Pousam no chão,
E esfarelam com o passar do tempo.

Enfim, folhas de cana.

Sina

Sua sina, Suassuna,
Dada por Nosso Senhor,
É a de escrever histórias,
E contar causos de amor

Em comédia, ação, romance,
Imaginar aventura,
E como bom criador,
Criar nova criatura,
Tipo bem tradicional,
Bom coração e alma pura

Fazer comédia, fazer romance,
Pra conquistar sua querida,
Tal como a Pedra do Reino,
E o Auto da Compadecida

E, por fim, seu Ariano,
Na terra de muita cana,
Não vai ter o riso a cavalo,
Que o livre da Caetana.

Fórmula

A raiz quadrada do meu ser,
Mais o dobro de minha alma,
Mais você ao quadrado,
É igual ao nosso amor.
E nem a soma do infinito com o eterno,
Chega na metade do que sinto por você.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Autopsicografia

A Fernando Pessoa

O poeta é um amador,
Mas não ama a dor somente,
Ama tudo onde há amor,
Ou onde, o amor, se sente

E os que leem o que escreve,
No amor lido sentem bem,
E quem nunca um amor teve,
Passa a ter amor também

O amor em tudo concorda,
E habita grande missão,
Nesse comboio de corda,
Que se chama coração.


Machado de Assis

Machado pro mundo,
Pai dos escritores,
Pensamentos fundos,
Em dores e amores

Um bom brasileiro,
De escravos descende,
E ao Rio de Janeiro,
Se apega, se prende

Do Rio faz relato,
Das ruas, das casas,
Do branco, mulato,
Dos que batem asas

Às asas batemos!
Pois, para a viagem,
Enxergarmos temos,
Ação e imagem

(imaginação)
Da nobre ironia,
Do bom coração,
De Joaquim Maria.

Desejo

Quero conhecer Paris,
Quero comer pão de queijo,
Quero ser sempre feliz,
Quero te roubar um beijo

Quero sentir a saudade,
Quero ter você a meu lado,
Quero ter sinceridade,
Quero subir no Corcovado

Quero aprender poesia,
Quero fazer boa rima,
Quero pular de alegria,
Quero ler Macunaíma

Quero, pois, ser imortal,
Quero amar com o coração,
Quero ir a Portugal,
Quero fazer uma canção

E, então, pensando agora,
Nessa estrada do querer,
Adianta querer toda hora,
Se não pensarmos no SER?

As quatro estações - Primavera

O Sol iluminou a relva,
Molhada de orvalho matinal,
E assim surgiu o dia,
Nas terras pra lá da montanha
As flores brotavam do chão,
Rosas, Margaridas, Crisântemos,
Colorindo o solo que antes era verde,
E agora comparava-se ao arco íris
O riacho azul, caminhava por entre o leito,
Levando peixes e lembranças,
De um amor que se acabou.
Porém, na sombra do cajueiro,
Nasceu um novo amor,
Entre dois bem-te-vis, que voavam,
Dançantes, pelo céu azul.

As quatro estações - Verão

O suor pingou na areia, quando abaixou para pegar a bola de vôlei.
Na praia, via-se senhoras, senhores, moças, rapazes e crianças soltando pipas.
As ondas quebravam, refrescando a areia quente, aquecida pelo Sol.
As montanhas verdes, faziam parte da paisagem do horizonte, que ligava o mar ao céu.
E assim, os peixes saltavam, mostrando sua alegria de viver naquele paraíso.

As quatro estações - Outono

No chão, as folhas secas dormem tranquilas, esperando esfarelarem-se e voarem pelo mundo, levadas pelo vento triste.
A árvore nua, derrama lágrimas salgadas, que evaporam antes de tocar o chão.
O João de Barro espiou de dentro da casa, sentiu um arrepio, e voltou a dormir.

As quatro estações - Inverno

A neve cobriu o jardim de casa.
Fechei a janela, e em meio a pensamentos viajantes, me deliciei com um chocolate quente.
Sentado na poltrona do vovô, peguei um clássico de Ágatha Christie e comecei a ler, sempre de olho na neve que caía, branqueando toda a cidade.
E, quando pensei que iria ficar assim, sem vida o dia, o Uirapuru cantou de leve, pousado sobre o telhado, anunciando a volta da Primavera.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Soneto rapidinho

Nasceu,
Chorou,
Falou,
Viveu

Comeu,
Cantou,
Brincou,
Bebeu

Cresceu,
Casou,
Pescou

Mudou,
Amou,
Morreu.

Cegueira

E estava tão furioso com tudo,
Queria bater no primeiro que visse,
Queria arrancá-la de seu coração,
"Que bom se ela não existisse"

Mas coitado, ele estava tão cego,
Com a vista tão pobre, tão crua,
Que nem viu, no céu, preparada,
Pra lhe ajudar, a tão brilhante lua.

Pranto

Coração à sorte,
Num pulso cativo,
Forte! Forte! Forte!
Bate, eu estou vivo

Porém de que adianta,
Estar vivo assim,
Se a dor, pois, já canta,
Lá dentro de mim

Sinto eu essa dor,
Essa erva daninha,
Por não dar-me amor,
Por tu não ser minha

Peço-te que urgente,
Perceba que existo,
E que fielmente,
Nesse amor insisto

Atenda-me agora,
Ouve a oração,
Do pranto que chora,
Em meu coração.

Perdão

Perdoai se erro,
Sou humano,
Perdoai se grito,
Eu te amo.
Perdoai se choro,
Sou errante,
Perdoai se adoro,
Sou amante.
Perdoai se escrevo,
Eu te quero,
Mas peço que venha,
Te espero.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Luz

O fio de luz corria pela fresta da janela,
E ia iluminar o rosto da donzela,
Que, em sonhos, almejava um grande amor
E a luz recaía-lhe sobre os cachos,
E se abria em 7 cores, acho,
De lá afastando a sombra da dor.

Nhac!

O urubu comeu a raposa.
O cachorro comeu a ração.
O passarinho comeu o girassol.
O papel comeu o lápis.
O governo comeu o dinheiro.
Os franceses comeram brioches.
Os portugueses comeram bacalhau.
O menino comeu a fruta.
E o tempo comeu a vida.

Carpe diem

Deus deu-me um bom banho de poesia,
E em mim fez habitar a natureza,
Encheu-me, enfim, da mais rica pureza,
Meu coração: um poço de alegria

Sobre mim o céu azul se fazia,
Grande e forte como uma fortaleza,
E mergulhando, pois, nessa beleza,
Fui nadando a aproveitar o dia

A água sob a ponte era dourada,
Os peixes nadavam do pôr-do-sol,
As árvores tocavam a canção

Chorei, sorri, amei a namorada,
Colhi a rosa, o cravo, o girassol,
E dormi com um novo coração.

No mercado

“Chega mais freguesia, vem correndo que hoje o preço tá bom”
“Moça, com licença, o carrinho!”
“Menino, seu viu o preço da batata? Que horror!”
“Mãe!!! Quero aquele doce!!!”
“Não, tá muito caro. Escolhe outra coisa!”
“Menina, para de brincar com as frutas e vai pegar logo o leite!”
“Promoção pessoal: Tomate por 0,99”
“Sai da frente que eu quero tomate”
“Agora aguenta ter que ficar nessa fila aqui!”
“A senhora vai levar agora, ou é pra entregar?”
“Não, vou levar agora mesmo. Os moleques tão aqui pra isso.”
“Dinheiro ou cartão?”
“Dinheiro.”
“CPF na nota?”




Descrição da amada

Coroa de rosas,
Que enfeita a cabeça,
Olhar que se esconde,
Por Deus, apareça
Se esconde tão frágil,
Por entre a coberta,
Pedindo a procura,
Pra uma descoberta
Do que, pois, se passa,
Na mente tão pura,
Será dor de amor?
Se for, não tem cura
Os cabelos longos,
Que caem serenos,
Sobre os ombros leves,
Lindos e morenos
Bochechas rosadas,
Esboçam pureza,
Esboçam sorrisos,
Com toda certeza
Porém o que pensa,
A doce donzela,
Que nem Afrodite,
É, pois, tão mais bela?
Tem medo do mundo?
Tem medo da dor?
Tem fé, pois, na vida?
Tem sonhos de amor?
O que está pensando,
Nunca saberei,
Porém para sempre,
Eu a amarei.
 

De repente

De repente o choro
De repente a fala.
De repente o desejo.
De repente a escola.
De repente o beijo.
De repente o diploma.
De repente um amor.
De repente uma dor.
De repente o trabalho.
De repente o casamento.
De repente filhos.
De repente o choro.
De repente a fala.
De repente o desejo.
De repente a escola.
De repente tudo de novo.
De repente a doença.
De repente a velhice.
De repente o cuidado.
De repente a morte.
A vida de repente.

Criança nordestina

O choro primeiro,
De quando nasceu,
Um carma certeiro,
Que a vida lhe deu
O choro segundo,
Da mãe costureira,
Do pai vagabundo,
Sem eira nem beira
O choro terceiro,
Da sede, da fome,
O sonho faceiro,
Que o tempo consome.
O bom choro quarto,
Que deu grande sorte,
Da vida era farto,
Foi viver a morte.
 

Planeta (sem) água

Dos rios, nem mais os peixes querem saber.
Dos mares, o negro óleo já tomou conta.
Das geleiras, a saudade, pois já não mais existem.
Dos riachos, vaga lembrança, pois secaram.
Das cachoeiras, escorrem tristezas, pneus e lixo.
Do filtro de barro, não sai uma só gota.
O que resta, se quiseres beber algo,
é olhar o horizonte seco,
o céu sem nuvens,
a brisa da esperança sendo destruída pelo furacão da realidade,
e chorar.
Chorando, as lágrimas do mundo mataram a sua sede.
 

Canção do horizonte

Eu sou o horizonte calm
Que nasceu pra dividir as coisas.
Divido o beijo azul do céu e mar,
Divido Adamastor dos portugueses,
Divido o real do ilusório,
Enfim, divido a terra do espaço.
Não caibo num único lugar,
Porém estou em tudo facilmente,
Atrás das montanhas e colinas,
Escondo o meu sorriso entre o ar que passa,
De leve, manso, belo e devagar.
Escondo em mim algumas travessuras,
Os mares nunca dantes navegados,
Fazem de mim sua torre e fortaleza.
E assim vivo, perambulando aqui,
E ali já cansado de tudo e de todos,
De vagar devagar por vossas vidas,
Dividindo-as como a régua longa,
Que Deus passa em volta do universo.
Porém ainda existo simplesmente,
Por ser atraente aos navegantes,
Que com suas forças e navios,
Invadem-me sem nem pedir licença,
Descobrindo o que eu um dia,
Guardei com enorme carinho.

 

 

 

 

 

Oração ao vento


“Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo o que for desnecessário.
Ando cansada de bagagens pesadas...
Daqui pra frente apenas o que couber na bolsa e no coração.”

                                  

                                              Cora Coralina
 
Oração ao Vento

 
Peço a ti, vento singelo,
Que sopra no litoral,
Soprai de mim as impurezas,
E tudo o que me faz mal

Tirai de meu corpo, oh Vento,
Decepção, mágoa, tristeza,
Para que então eu alcance,
A minha mais rica pureza

Peço isso pois estou,
Com a minha alma cansada,
De tanto ter de carregar,
Tantas bagagens pesadas

Então termino pedindo,
Que se cumpra esta missão,
Deixai apena o que cabe,
Somente em meu coração.

 

sábado, 16 de janeiro de 2016

Essa terra


Essa terra que Pedrinho,
Nem queria descobrir,
Essa terra onde nasci,
E onde haverei de partir

Essa terra abençoada,
Onde se morre de sede,
Onde se morre de fome,
Onde se dorme na rede

Essa terra que é estranha,
Terra do trabalhador,
Terra do homem do campo,
Terra do amor e da dor

Essa terra desprezada,
Por Carlota Joaquina,
Que tirou, pois, essa terra,
De suas finas botinas

Essa terra onde a mulher,
Cuida da casa e do lar,
Essa terra onde esse povo,
Já foi proibido de amar

Essa terra dos indígenas,
Nossos pais que, pois, sofreram,
Quando lhes escravizamos,
Padeceram e morreram

Essa terra que o planeta,
Inteirinho faz piada,
Essa terra onde o sinhô,
Tem filhos com a criada

Essa terra camuflada,
De beleza e ilusão,
Essa terra verdadeira,
Mãe, pois, da corrupção

Essa terra onde há ainda,
Muita, muita, escravidão,
Mesmo após mais de cem anos,
Não há amor nem compaixão

Essa terra onde, pois, mora,
O povo mais preguiçoso,
Da preguiça mais eterna,
E do cérebro mais oco

Essa terra que tu pensas,
Estar bem longe de ti,
Essa terra está tão perto,
Olhe o chão, está aí.



Ciclo

Ora se está tão alegre,
Ora se está muito triste,
Ora se está bem aqui,
Ora já não mais existe

Ora se nasce de novo,
Ora se morre outra vez,
Ora se muda de mente,
Ora se esconde, talvez

Ora se faz tão contente,
Ora se faz sonhador,
Ora se faz um doente,
Ora se faz amador

Ora se está tão possesso,
Que pensa em dar fim à vida,
Ora se para e reflete,
“Não, eu não sou suicida”

Ora, porém, entretanto,
Não se cabe de feliz,
Ora quer ir a Europa,
Tomar café em Paris

E nesse ora e mais ora,
As horas voam com pressa,
E tu se perguntas sozinho,
“Que vida cíclica é essa?”

Inversão capitalista


Aquele dia estava diferente, perplexo. O sol acabara de nascer e já bocejava com vontade de se pôr novamente. As cortinas dos apartamentos estavam fechadas, e, como que por encanto, não se ouvia barulho algum na grande cidade. As lojas não abriram e o correio não passou. A cigana não armou sua barraca na Praça Carlos Gomes para ler a mão e inventar lorotas aos namorados, que, por sua vez, também não estavam nas ruas. Não havia ninguém, nem uma só alma humana a perambular pelos becos, pelas vielas e pelas avenidas.

Não obstante, o mundo continuava a girar e aqueles seres denominados ‘coisas’, tal como a caixa de bombons, a geladeira, o microondas, o patê de atum, o saco de lixo, o celular, entre tantos outros que, desde a vossa criação tinham sido humilhados e descartados aos urubus do aterro sanitário quando não mais satisfaziam o desejo de seus donos, agora possuíam o poder sobre o planeta. E num relance, foram às compras, pois precisavam de algumas ‘coisas’...

A caixa de bombons, após o banho de maquiagem e a persistente demora em escolher um vestido decente para ir ao “Human’s Shop”, lá chegando, pôs-se a caminhar lentamente pelas prateleiras lotadas de seres humanos, polidos, limpos, e prontos para serem comprados por uma alma piedosa. Andou pelo corredor dos loiros, porém ficou encantada com a simpatia do olhar lançado pelo japonês e, não tendo muitas economias, retirou-o cuidadosamente da prateleira, o pôs numa sacola biodegradável e foi ao caixa. De volta à sua casa, ela guardou o japonês no armário. Iria conservá-lo para que não estragasse. Depois que o atual jardineiro morresse, ele poderia servir como tal ou como qualquer outra profissão do gênero.

E assim se fez. Cada objeto, no seu tempo e por sua vontade, escolhera um tipo de ser humano para realizar as tarefas à que foram escolhidos. A geladeira usou o afro-descendente como governante da sua mansão em Alfaville. O microondas escolheu a loira, porém ao tirá-la da prateleira, aquela veio ao chão, tombo este que causaria grandes problemas na hora do pagamento. O patê de atum foi esperto, precisava de um criado-mudo, no sentido literal da palavra, e, sem mais dúvidas, levou o anão. Já o nosso amigo saco de lixo foi inteligente e decidido, entrou no mercado sabendo o que queria. Dono de muitas propriedades, ele logo escolheu alguém que pudesse lhe ajudar a gerenciar os negócios, portanto o executivo bateu o paletó já empoeirado de tanto esperar, e, abrindo um sorriso, foi com seu novo dono. O celular ficou com uma escrava. Quase um paradoxo, não é? Como pode um ser tão novo quanto o celular poder possuir um escrava, visto que há mais de cem anos aboliu-se a escravidão? Ora, fico feliz em sua esperança de nisso acreditar, porém lhe informo, com grande dor no coração, que ela é ainda sim, uma realidade, e precisa ser comentada, discutida, e encerrada.

Os objetos comprados, de início, não reclamaram da vida nova. Foram bem acolhidos, cada um desempenhando o papel que lhes fora destinado. Porém como nem tudo na vida acaba em festa, o mundo girou, e girou, e girou, e assim passaram-se semanas, meses, e os donos, ao lerem o prazo de validade de seus produtos comprados naquela fria tarde de inverno, viram-se obrigados a jogá-los fora, para servirem talvez, aos urubus do aterro sanitário.

E assim, cumprindo suas tão infelizes trajetórias no planeta azul, os homens e mulheres viram-se em meio a outros de mesma espécie que também tiveram seus prazos de validade vencidos. Às vezes é preciso ser ‘coisa’ para dar mais valor às ‘coisas’.




Palavras

Na palavra amor me perdi,
Na palavra solidão me achei,
Na palavra dor sofri,
Na palavra só fiquei

Na palavra vida perdi,
Na palavra morte ganhei,
Na palavra nada me vi,
Na palavra poesia parei

Na palavra reles me preenchi,
Na palavra chuva molhei,
Na palavra sol me aqueci,
Na palavra terra me enterrei

Na palavra sério menti,
Na palavra forte me errei,
Na palavra livro eu li,
Na palavra fraco não sei

Na palavra entrar eu sai,
Na palavra sair eu entrei,
Na palavra azar eu vivi,
Na palavra sorte eu joguei

Na palavra vida perdi,
Na palavra morte ganhei,
Na palavra nada me vi,
Na palavra poesia parei.