Da janela do
meu apartamento,
Vi as costas
de um crocodilo virar a Mantiqueira,
Vi a
joaninha virar sol quando se põe,
Vi pessoas
virarem formigas,
Andando numa
fila indiana para o trabalho na fábrica.
Pequenos
alienados tais como máquinas.
Vi serpentes
de fogo virarem pipas,
Que colorem
o céu do meu país já tão sem cor.
Vi milhos
jogados no asfalto virarem táxis,
Vi um
monstro de poeira virar monóxido de carbono,
Que nos mata
por dentro a cada instante que saímos às ruas.
Da janela do
meu apartamento,
Vi uma cobra
cor de prata virar trem,
Que traz o
ferro roubado das Minas Gerais.
Vi pequenos
caixotes virarem importantes escritórios,
Onde
trabalham advogados importantes.
Vi uma poça
d’água virar mar,
Virar o
oceano que nos trouxe a língua.
Vi poucos
pontos verdes,
Tais como
nuvenzinhas de esperança,
Virarem
árvores da praça.
Da janela do
meu apartamento,
Vi grandes
flechas que querem chegar a Deus virarem arranha-céus.
Vi jogos da
velha cinzas e sem graças virarem cruzamentos de avenidas.
Vi um
sorriso torto virar lua,
Vi vaga-lumes
brancos virarem estrelas,
Vi teias de
aranhas virarem fios que correm pelos postes,
Levando luz
e saudades pelos espirais de cobre.
E vi também,
noutra janela a me olhar,
Uma moça que
me lançou um sorriso.