quarta-feira, 13 de abril de 2016

Da janela

Da janela do meu apartamento,
Vi as costas de um crocodilo virar a Mantiqueira,
Vi a joaninha virar sol quando se põe,
Vi pessoas virarem formigas,
Andando numa fila indiana para o trabalho na fábrica.
Pequenos alienados tais como máquinas.
Vi serpentes de fogo virarem pipas,
Que colorem o céu do meu país já tão sem cor.
Vi milhos jogados no asfalto virarem táxis,
Vi um monstro de poeira virar monóxido de carbono,
Que nos mata por dentro a cada instante que saímos às ruas.

Da janela do meu apartamento,
Vi uma cobra cor de prata virar trem,
Que traz o ferro roubado das Minas Gerais.
Vi pequenos caixotes virarem importantes escritórios,
Onde trabalham advogados importantes.
Vi uma poça d’água virar mar,
Virar o oceano que nos trouxe a língua.
Vi poucos pontos verdes,
Tais como nuvenzinhas de esperança,
Virarem árvores da praça.

Da janela do meu apartamento,
Vi grandes flechas que querem chegar a Deus virarem arranha-céus.
Vi jogos da velha cinzas e sem graças virarem cruzamentos de avenidas.
Vi um sorriso torto virar lua,
Vi vaga-lumes brancos virarem estrelas,
Vi teias de aranhas virarem fios que correm pelos postes,
Levando luz e saudades pelos espirais de cobre.
E vi também, noutra janela a me olhar,
Uma moça que me lançou um sorriso.

2 comentários:

  1. Quizera eu tbm ver algo...
    Que nesse mundo sem nexo...fizesse imitar uma dália que fosse!
    Como num filme, coisas talhadas, mesmo que eu nem assistisse...
    Nenhum neurótico me chama,pra ver seu abacateiro...fico triste...ninguém a intoxicar a esfinge que sinto em mim existir...
    Se ao menos um filósofo em vez de falar, me ouvisse...ou um poeta que fosse, nem ele, nem nenhum!
    A madrugada se vai, quiéta, a sussurrar coisas que nem escuto...
    Me sinto uma intrusa, na vida...no mundo...
    ...como se um intestino me levasse a correr...pra alcançá-lo lá na esquina, virando todo num nó, vários nós e vários eus...
    Queria tbm eu poder me alongar , pra longe daqui ir parar
    Como um dardo preso e esquecido me sinto...e sem desfazer os nós que dei a mim mesma!
    Mas, áh...se uma janela eu tivesse...

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