Quero armar uma rede nos troncos,
Das árvores-topetes de tua
prefeitura.
E, em plena sexta fazer a sesta
depois da cesta de frutas,
Que comprei no Mercadão.
E num enleio curioso, afastar a nuvem
carbônica de teu rosto,
Para melhor poder ver-te e
apreciar-te.
Apreciar a arte de suas ruas,
Azulejos pintados,
Muros grafitados,
Bêbedos desengonçados,
Gaiatos apaixonados,
Músicos desafinados.
Linhas de ferro que te cortam sem
perdão,
E levam, em altas velocidades,
Alienados ao trabalho, ao plantão.
Tua gente não se satisfaz com nada,
Não foge à luta por um mundo melhor.
Protestos no vão.
Protestos em vão.
E tu sambas, bela Sampa,
Alegre ao ver que podes acumular
O capital, que te criou em berço de
ouro,
Explorando quem tu vestes de ilusões.
Tu, cidade dos teatros e cinemas,
Cultura burguesa que se vê ameaçada,
Pela arte periférica que te inunda
cada dia mais.
Riscos gelados, retos e impassíveis,
Traçam o corpo de seus prédios
modernistas,
Que contrastam com a curva delicada e
harmoniosa,
Dos casarões que hoje abrigam teus
cortiços.
Greves não breves assombram o futuro
de suas mentes infantis,
E pregam a ignorância futura nas
mentes ainda não nascidas.
Colocas, tu, sua máscara benigna,
Com as esperanças enraizadas do
Ibirapuera,
Com a gastronomia de fazer inveja à
França,
Com belíssimas catedrais que fazem
vidrar os olhos dos fãs católicos,
Para todos passarem sem ver realmente
quem és tu.
Para não verem os mendigos que,
Sob viadutos, pontes, e teu imenso
desprezo,
Ajeitam papelões e jornais para
sonharem com um mundo mais igual.
Não espero de ti o sonho feliz de
cidade,
Mas espero um sonho: cidade feliz.
Que tu possas, nesses mais de
quatrocentos anos,
De uma vida dedicada ao lucro,
E à Belle Époque que nunca se
instalou em ti,
Ainda se recuperar e virar esta
página infeliz do seu livro de memórias.
Tu, terra da garoa,
Em parte ruim, em parte boa,
Com seus erros e seus acertos,
Faz-nos dependentes de sua
existência.
Apesar de tudo,
De todos os seus avarentos,
De seus tão tristes momentos,
Eu bem que ainda tento:
Dizer tudo isso por que te amo São
Paulo.
Faça-te digna do nome de teu santo.
Assim como Paulo abriu os olhos a
Deus,
Abra bem os olhos, e olhe para os
habitantes teus.
Terra de encantos e desencantos, de sonhos e pesadelos, de primavera de luzes engarrafadas em corixo sem água e de sonhos erguidos nos concretos cinzentos de esperança. Lindo Márcio!! Lindo texto!!
ResponderExcluirOla,Marcinho! Amei! Realmente, São Paulo. Gostei do jogo de palavras... Citou até a Belle Époque! Certa vez estive em Piracicaba com o tio Ed para uma exposição sobre ela. Noite incrível. Bjo.
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