domingo, 5 de junho de 2016

Café

A mesa do café estava posta.
O relógio da sala, antigo cuco,
Herança do avô materno,
Anunciava cinco horas.
Lá fora o vento soprava frio e manso,
Penteando o topete das árvores,
Levando ao longe tristezas e decepções.
O bem-te-vi pousou no parapeito,
Olhou aguçado para o bolo de fubá,
Que inundava a saleta com seu cheiro brasileiro.
O bule de prata majestoso se fazia,
Pois em suas mãos estava a alma daquela simples tarde:
O café preto que esquenta e conforta,
Quando o bebemos reunidos em família,
Juntos como um só indivíduo,
Abjetos ao pecado e à maldade,
Puros,
Em viva comunhão com a natureza.
Pois brotou, ele, da nossa mãe-terra,
Que tanto é explorada e consumida,
Pelo dinheiro, pela posse e por poder.
Colhido pelas mãos dos, já cansados,
Escravos de um sistema sem justiça,
E saboreado pela boca da jovem rica,
Vestida de seda, com sapatos azuis.
Esse mesmo café, presente naquela mesa,
E em outras tantas deste vasto mundo,
Faz-se bebida de inenarrável importância,
Gosto de paz,
Cheiro de alegria.
Ao me embebedar com o sabor divino,
A Deus e a todos os santos agradeço,
Porque fizeram de mim digno de seu consumo.
Que eu possa, nessa tarde,
Cujas flores sorriem apaixonadas,
Pelo sol que as banha galanteador,
Pedir por um mundo com mais amor,
E tomar, com fé, café.


2 comentários:

  1. Oie, Marcinho, que vontade daquele nossa cafezinho, hein? Com o meu pãozinho caseiro.... Hummmm... Passa em casa!

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  2. Café...para mim, bebida dos deuses!
    E eu, aqui, nesse frio, me sentindo como nunca, quiçá...uma deusa!
    Com o gosto "gostoso" de uma deliciosa xícara de café!
    Mesmo sem ser rica, nem ter roupa de seda, apenas um sapato azul...
    Mas, mesmo assim, me sentindo abençoada tbm, por ter o privilégio,
    De ter uma bebida Santa como essa em minhas mãos a hora que a vontade bate firme e solene,
    E eu que de rogada nunca me faço, quando o assunto é café,
    Faço logo um para mim...
    E a me deliciar eu fico,
    Sorvendo tranquilamente,
    Saboreando esse líquido quente, que a meu ver, é dos deuses sim...
    Pois a cada gole, ele me tira da Terra, e me lança ao céu,
    Por isso imagino ser eu...uma deusa!




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