segunda-feira, 27 de junho de 2016

Ao tempo

Relógios do mundo, parai.
Rotação dos astros, cessai.
Deem-me a chance de poder respirar.
Tempo, que passa como luz,
Vida que nasce morrendo,
Deem-me a chance de poder amar.
Tu, imperialista universal,
Inevitável a qualquer matéria,
E até mesmo à ausência dela,
Seja digno de teu nome e dê-me tempo.
Tempo, eu quero tempo,
Antes que o tempo mude,
E desça, molhando nosso solo gasto,
As lágrimas de um povo que clama por liberdade.
As folhas caem, as flores brotam,
Enchendo de alegria todo o jardim.
O outono chega, e os troncos ficam nus.
A chuva cai, desce o leito fluvial,
Deságua no oceano e evapora,
Levando consigo nossas tristezas e decepções.
Tu, e somente tu, és capaz de fazer com que,
Dos primeiros grãos de terra 
colocados sobre o galho do ipê,
Venha a nascer o castelo do João-de-barro.
O menino nasce, e tu fazes com que ele cresça,
Mais e mais e mais e mais,
Envelhecendo graças a tua impiedade.
És bom e ruim, és pacato e severo,
És indesejado e necessário.
Tu, tempo que agora passa,
Voando de asas abertas sobre todos,
Soprado pelo vento que vem de lá,
Anuncias o pôr do sol e o nascer da lua.
É preciso, entretanto, aprender a te amar,
Chegando assim ao segredo do saber viver.
Levas nossos amores, nossas dores,
Nossas dúvidas e certezas,
E nos prepara a cada dia para sermos,
Apesar de tudo,
Mais fortes, sábios e felizes.
E, sentado na cadeira do escritório,
Eu, na condição de teu escravo,
Aprendi que é preciso tempo para lidar com o senhor.
Peço-te um pouco de paciência.
Pois agora eu fujo do tempus fugit.

2 comentários:

  1. Oi, Marcinho!
    Mais uma pérola.
    Eu tbm quero tempo...
    Bjos.
    Tia Lu

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  2. Obrigado tia Lu, pela atenção com meus humildes textos. Beijos

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