sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O que será que ele pensa?

          A olhar um postal da cidade maravilhosa uma pergunta me veio em mente, daquelas que não saem da cabeça enquanto não tiverem uma resposta que as satisfazem: O que será que pensa Drummond, ali sentado em Copacabana? De pernas cruzadas, os olhos pacatos com uma calma que vem de Minas, ele a tudo observa.
          Vê as garotas que um dia fizeram algum coração bater mais forte, vê os moleques com os pés descalços a correr atrás de pipas e, com o tempo, a correr atrás de saias. Vê o casal de namorados que passeia sob a luz da lua planejando a data do casamento, o nome do primogênito, e a compra de um novo jogo de panelas.
          Observa de olhar atento os malandros do Rio que, numa questão de segundos, com uma rapidez até elegante, furtam as senhoras que saem de casa para comprar um pãozinho para o café. Vê a poluição tomar conta das orlas, o lixo que se amontoa em todos os lugares, nas ruas, nas praias, nas calçadas e nos corações dos que isso fazem. Sente-se triste quando vê seu banco pichado, logo o seu banco, onde recebe diariamente muitos visitantes que, com ele, tiram fotos, trocam ideias e agradecem pelo relato da cidade, do povo e das opiniões feitos por ele em mais de sessenta anos como cronista diário.
          Talvez, quando ele fecha seus olhos para descansar de um dia cheio de compromissos, ele pense que a cidade que ele adotou para si, está, a cada dia, se transformando num paraíso de arrastões, poluição e individualidade, ponto chave para que o resto que for ruim aconteça. Quando se é individualista, se constrói uma redoma em torno de si e se esquece do mundo, apenas o lembrando quando, no jornal, vê que a situação está crítica e que tudo está no fundo do poço. Mas a tevê é desligada e a culpa é colocada no governo.
          E o nosso poeta, ainda em sonhos que são dependentes da população para virem a ser realidade, almeja um Rio novo, cheio de vida, sem poluição, apenas capaz de ouvir, em silêncio, o ronco das ondas que quebram na areia da praia.


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